Auto-retrato


Se loucura é gritar bem alto aquilo que sinto, aquilo que sou, aquilo em que o passado me tornou, aquilo que o futuro encontrou;
se loucura é sonhar o impossível, desejar o infinito, querer o inalcançável, lutar contra o invencível;
se loucura é amar o diferente, o insólito, humilde ou arrogante, sóbrio ou exuberante, simples ou voluptuoso, tranquilizante ou excitante, sereno ou agitado, doce ou picante, mas genuíno;
se loucura é ter sede de pecado, de prazer;
se loucura é buscar incessantemente a perfeição, a sublimação, a consubstanciação com a verdade pura;
se loucura é adorar os defeitos do Homem, cada órgão do seu corpo, cada simples elemento da sua complexa mente, a sua vulnerável força humana, perecível e tão apetecível pois insubstituível, incompreensível;
se loucura é procurar desvendar as entranhas de cada ser, querer o mais profundo, oculto, misterioso, íntimo, único;
se loucura é retirar a energia vital do reconhecimento da proximidade da morbidez longínqua;
se loucura é ter a pretensão de que é possível deixar-se fascinar, admirar e adorar todo o universo;
se loucura é querer romper com os taboos, sem jogos crus, mas com sentimentos nus;
se loucura é manter-se fiel às convicções, sem ceder a convenções, pressões de meios tostões;
se loucura é da felicidade chorar saudosamente e da dor rir compulsiva e ofegantemente;
se loucura é uivar a cada luar sem temer o amanhecer acordar;
se loucura é um descontentamento permanente deste viver descontente de contente;
se loucura é encontrar estabilidade na duvidada inconstante;
se loucura é deixar um pouco de mim em cada passo, em cada abraço;
se loucura é guardar um pouco de ti em cada pedaço do meu querer, do meu entender, do meu ser, do meu viver…
então eu não sou louca.
Eu sou a loucura em si mesma!

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